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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Pombos em Londrina.

Não é de hoje que o povo londrinense se queixa da superpopulação de pombos na cidade, mas para começar a discutir sobre  assunto, primeiro devemos esclarecer qual é a espécie de pombo que está causando o problema.
Existem pelo menos 10 espécies de pombos em Londrina, dentre as quais a maioria habita a zona rural e as matas nela contidas. Destas espécies basicamente 2 habitam de modo significativo a zona urbana de Londrina, o pombo-doméstico (Columba livia) e a Avoante (Zenaida auriculata). A primeira delas, o pombo-doméstico, é aquele pombo corpulento com cores que variam do branco ao preto passando por praticamente todos as gamas de cinza, o que resulta em indivíduos pretos, cinzas, brancos, e malhados. A segunda delas, a avoante, é um pombo menor que o doméstico, de cor cinza e sem diferença significante entre os indivíduos. O doméstico é de origem européia, e como o próprio nome diz é aquele pombo que o homem domesticou - e ainda domestica - há séculos, "empregando-os" inclusive como os famosos pombos-correio, e são as aves que hoje vemos e alimentamos em praças e calçadas ao redor do mundo.
Já a avoante, é um pombo mais restrito à América-do-sul e de hábitos naturalmente campestres, mas que ao longo da história vem se adaptando cada vez mais à zonas urbanas. Um dos fatores que contribuem para o aumento exponencial da população de Zenaida auriculata é o desmatamento, pois este processo amplia as áreas campestres ou abertas, configurando o ambiente "natural" dessa espécie.
A base alimentar da avoante é composta especialmente por grãos, e é aí que entra o motivo da superpopulação desta ave em Londrina. Ao longo de toda a zona rural londrinense é possível perceber o predomínio de culturas de grãos, como soja, milho, trigo e etc. Desta forma, os nossos queridos pombos acinzentados encontram alimento de sobra, o que pode sugerir inclusive que estes pombos figurem como típicos organismos "R" estrategistas. Quem teve acesso à ecologia de populações sabe exatamente do que se tratam os R e os K estrategistas, mas trocando em miúdos pensemos que espécies R investem alto em reprodução, e quando há sobra de recursos (como o alimento para os pombos de londrina) tendem a aumentar a população literalmente até não caber mais sem se preocupar com o futuro de cada indivíduo, e as K estrategistas são espécies mais concisas reprodutivamente, além de investirem em cuidados com a prole garantindo a manutenção um pouco mais "sensata" da população. Outra definição - a grosso modo - seria, uma população R estrategista é controlada pelo ambiente, há flutuações populacionais que são reguladas pela disponibilidade de recursos, se há recursos a população aumenta absurdamente, até o ponto que o número de indivíduos ultrapassa a capacidade de suporte do ambiente (quantos individuos o ambiente consegue sustentar) e a partir deste limiar, a população diminui drasticamente. Já o K estrategista se preocupa apenas em garantir o seu espaço até um nível seguro para a manutenção da permanência da espécie.
Voltando aos pombos de londrina, a avoante tem aproximadamente 6 ninhadas por ano, gerando e média 3 filhotes por ninho. Logo a população teoricamente triplicaria a cara ninhada, mas é óbvio que há uma grande mortandade de filhotes, mas de qualquer maneira a população aumenta a cada ano. Mas e os recursos?? Vai chegar um momento que não vai haver comida para tantos pombos e aí a população se estabilizaria!
É... seria verdade se não houvessem tantas pesquisas para aumentar a produção das diversas culturas. Por exemplo, o Brasil é o segundo maior produtor de soja no mundo, e a produção aumenta a cada ano devido às pesquisas, hoje se produz muito mais por hectare de terra do que se produzia há 30 anos atrás.
Este aumento da produção é ruim então?
Jamais! Nós todos precisamos comer, e os grãos fazem parte de nosso cardápio diário, e inclusive alimentam nossas picanhas, coxas e lombinhos.
Este panorama aqui apresentado serve para ilustrar que o problema dos pombos é "bem mais embaixo", e não pode ser resolvido com medidas paleativas como a soltura de predadores, uso de sons irritantes, géis grudentos nas árvores e estruturas urbanas, nem mesmo o abate massal.
Por que nenhuma delas funciona como o esperado?
Ao soltar milhares de predadores, não há garantia alguma de que eles comerão apenas os pombos e não vão predar outras espécies coadjuvantes no cenário caótico londrinense, e isto pode causar um enorme desequilíbrio ecológico.
O mesmo vale para o som irritante, não há garantia que ele espante apenas os pombos, e é utópico e inaceitável imaginar o teste deste som com todas as espécies de aves e até mesmo de outros animais existentes.
Novamente vale para o gel grudento, pois dezenas de outras espécies pousam nas árvores e estruturas londrinenses, e se o gel incomoda uma pomba, imagina o que não faz com espécies de menor porte, que podem até ficar presas a ele até a morte.
E o abate massal, pensando na dinâmica populacional dos pombos, seria questão de tempo para que voltassem a explodir em número de indivíduos na cidade.
Londrina está apenas sofrendo o reflexo de uma ocupação humana sem critérios e do desmatamento desregrado. Infelizmente não nos cabe a esperança de que as medidas "milagrosas" propostas para o problema, mas quem sabe acreditar que um dia o homem vai deixar de pensar com o bolso e pensar com o coração. Apenas uma restruturação do modelo agropecuário Londrinense poderia resultar em algo efetivo contra este enorme desiquilíbrio representado por nossas "amigas" avoantes. Quem sabe se existissem aqui cultivos variados (e não monoculturas), como frutíferas, madeiras para corte, e etc, haveriam espécies animais variadas em igual proporção, e com novos predadores e presas e novos nichos ecológicos disponíveis, um novo equilíbrio seria uma consequência.

2 comentários:

  1. Muito bacana!!!!!! Curti muito!! valeu fera!
    Vamos observar aves juntos?

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    Respostas
    1. Rapaz, você é de onde?
      Identifique-se kkkkkkk
      Difícil combinar uma passarinhada com "anônimo"

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