Bem vindo ao Blog de Ornitologia e Birdwatching da ONG MAE!

SEJA BEM VINDO!

Se você é ornitólogo profissional ou amador, ou um simples amante da natureza em especial da avifauna, este é o seu Blog. De agora em diante serão postadas novidades, notícias e informações interessantes obtidas através das pesquisas e atividades realizadas pela ONG MAE - Meio Ambiente Equilibrado, sobre a avifauna brasileira.

domingo, 28 de julho de 2013

Como escolher um bom gravador para observação de aves

     Como a postagem anterior referia-se às técnicas de playback, achamos interessante fazer uma nova postagem para auxiliar aqueles que buscam iniciar-se ou aperfeiçoar-se na arte de gravar as vozes de nossos amigos penosos. Aqui explicaremos e indicaremos no que se deve estar atento para a compra de um Gravador para aves.
     Primeiramente, é interessante lembrar que o som é emitido e se propaga em forma de ondas, e essas ondas têm determinadas frequências que são medidas em Hertz (Hz). Esta unidade de medida refere-se ao número de vibrações ou oscilações da onda sonora por segundo, ou seja, uma onda de 400Hz vibra 400 vezes por segundo. A voz humana por exemplo, não costuma ultrapassar os 6000Hz de frequência independente do gênero (homem ou mulher).
      Uma ave com vocalização aguda e estridente emite ondas sonoras com alta frequência (p.ex. 15000Hz), já aves com vocalização mais grave e suave emitem ondas sonoras de baixa frequência (p.ex. 300Hz). Logo, se você pretende gravar qualquer uma destas aves hipotéticas, o seu gravador deve ser capaz de captar uma gama de ondas sonoras que englobe as duas frequências citadas. 
     Para esclarecer, se você compra um gravador cuja gama de frequências captadas é de 70Hz a 6000Hz, você conseguirá captar apenas o som da ave de vocalização mais grave (300hz), enquanto a de vocalização aguda (15000Hz) passará despercebida pelo aparelho. Agora se você comprou um gravador cuja gama de frequências é de 400Hz a 17000Hz acontecerá o contrário, e o aparelho captará apenas o som agudo, enquanto o grave passará despercebido.
      Esta questão das frequências que o gravador consegue captar, é primordial para que você ao menos consiga o registro das espécies, no entanto, ela não é garantia de que a qualidade da gravação seja boa. Você pode gravar uma ave com canto mais grave em um gravador que vai apenas até 6000hz, e ela ficar mais nítida do que uma gravação de uma outra ave de canto agudo captada por um gravador que capta até 15000hz. E o contrário também pode acontecer.
        Uma das características que resulta nesta diferença, é o formato da mídia que será gravada, e isto varia obviamente entre um gravador e outro.
         Existem gravadores de vários tipos... como os antiquíssimos gravadores "portáteis" de rolo:
os populares gravadores de micro-fita cassete:
gravadores de fita cassete portáteis e não tão portáteis assim:


e os gravadores digitais profissionais e super compactos:


           Mesmo com tanta variedade de gravadores, dá pra simplificar bastante a análise.
     As chances de você encontrar um gravador de Rolo portátil funcionando, e ter disposição para carregar um destes durante sua passarinhada (especialmente se você não é profissional da área), são reduzidas, então de cara podemos descarta-los das possibilidades.
     Então fiquemos entre os gravadores de fita, micro-fita e digitais.
     Os gravadores de fita ou micro-fita, mesmo que apresentem uma vasta gama de frequências (p.ex. o aclamado Sony TCM-5000EV e sua invejável gama de 90-90000hz) dependem muito da qualidade da fita em si para que as gravações sejam feitas com menos ruído e/ou mais fiéis. Trocando em miúdos, não adianta utilizar um TCM-5000EV com uma fita de baixa qualidade. A maior diferença entre as fitas cassete comuns, e as micro-fitas cassete - além do tamanho físico é claro - é o tempo de gravação de cada uma. As comuns foram popularizadas com os modelos de 60 minutos (30 de cada lado da fita), enquanto as micro-fitas gravam apenas 30 minutos (15 de cada lado). Se você é um gravador ocasional, esta diferença de tempo pode não representar um incômodo, mas se você é um profissional da bioacústica esteja preparado para carregar algumas "fitinhas". Como esperado, as fitas cassete passaram por um longo processo de aperfeiçoamento, em busca de uma composição da fita magnética que fosse mais resistente ao tempo e às constantes gravações e regravações (quem usou fitas sabe bem o que é gravar e apagar as fitas para que sejam reaproveitadas). O ápice desta evolução são as fitas IEC Type IV, também conhecidas como fitas "Metal", que eram consequentemente, mais caras que as IEC Type I, II e III.
     Mas ainda haviam outras táticas para melhorar ainda mais a qualidade das gravações nas fitas Cassete, e uma delas era aumentar a velocidade de gravação.
     Como assim?
     A grosso modo, uma fita de 60 minutos, seria utilizada para gravar apenas 30 minutos no mesmo espaço, utilizando uma velocidade de gravação de 2x. Ou seja, se para 20 segundos de gravação, numa velocidade normal seriam utilizados 30 centímetros da fita, em velocidade duplicada seriam utilizados 60 centímetros da mesma fita.
      E como isto melhora a qualidade?
      É uma questão de resolução, e podemos usar o exemplo de um quadro. Um pintor retratista consegue reproduzir mais detalhes da pessoa em uma tela do tamanho de um cartão de visitas, ou em uma tela do tamanho de uma cartolina? Funciona mais ou menos assim com o som, se você oferece mais espaço para gravar uma mesma faixa, mais detalhes serão reproduzidos.
      Agora a pergunta fatídica: Compensa investir num gravador de fita em plena era digital?
      Eu diria: Talvez.
      Se você herdou de seu pai ou avô, um gravador de fita profissional, com especificações maravilhosas, e com fitas de boa qualidade, dá pra usar sem medo. As gravações ficarão ótimas, e é possível você digitaliza-las posteriormente com um computador munido de uma boa placa de som, com um bom software, para não perder a fidelidade das gravações.
      Agora se você não herdou, e pretende adquirir um, a não ser que a oferta seja irrecusável, acho que você não iria querer carregar um monte de fitas pra cima e pra baixo, além do próprio gravador grande e pesado, por um preço até hoje salgado (mesmo os usados) e ainda ter que correr atrás de fitas cassete Metal, que estão cada vez mais raras no mercado.
       Um fator, que pra mim é decisivo na opção por não usar gravadores de fita, é a dificuldade de ficar rebobinando a fita para conferir a gravação, mesmo naqueles gravadores com marcador de tempo. É um tanto chato ficar alternando entre os botões RW e FF até encontrar o ponto da gravação. Sem contar a chance de você rebobinar demais a fita sem querer, e sobrepor suas gravações com outras.
       Por fim, antes tarde do que nunca, vamos aos gravadores digitais.
      Como o próprio nome diz, são gravadores que utilizam midias digitais para gravação, seja uma memória flash interna, ou cartão de memória, ou mesmo pen drive. As vantagens dos gravadores digitais de modo geral são: tamanho reduzido, alta capacidade de tempo de gravação (não é difícil encontrar modelos que gravam até 48 horas utilizando apenas a memória interna). E mesmo que o gravador não tenha uma mémoria interna generosa, se ele tiver entrada para cartão de memória, é muito mais fácil carregar alguns cartões no bolso, do que algumas fitas cassete. Já a desvantagem vai de encontro com a de qualquer outro produto, o barato pode sair caro.
      Novamente, é importantíssimo estar atento às especificações técnicas do gravador. A gama de frequência continua sendo uma das principais características a serem consideradas, e para que um gravador seja efetivo no mundo ornitológico, esta gama de frequencia deve ser a mais abrangente possivel. Costumo dizer que se existisse um gravador que captasse de 1hz até 100000hz seria perfeito, mas o mínimo para um gravador digital de qualidade é algo em torno de 70 - 15000hz, e conforme as medidas vão além deste padrão para os dois lados (de 70 ou menos, até 15000 ou mais), melhor a capacidade e fidelidade de graves e agudos.
       Outra especificação que devemos estar atentos, é a taxa de amostragem (sampling rate) do gravador. A taxa de amostragem mínima dos aparelhos de boa qualidade, é de 44.1khz, e também são os mais comuns. Outros valores razoavelmente comuns são de 48khz e 96khz, obviamente, refletem no preço do aparelho. Para fins de comparação, o que há de mais avançado (das tecnologias já difundidas para todos) em qualidade de som, são os discos de audio DVD e Blu-ray, com capacidade de gravação e reprodução de 192khz. Quanto maior a taxa de amostragem, maior a qualidade de som, e maior o preço do aparelho.
      E por fim, para não alongar ainda mais o texto, a taxa de bits (bit rate) do gravador. Quem nunca encontrou a mesma música em mp3, com qualidade e tamanho de arquivos completamente diferentes? É aí que entra a taxa de bits, ou como representados no mundo digital, o valor de kbps. Uma música codificada num arquivo de 128kbps, terá uma clareza sonora menor do que a mesma música codificada num arquivo de 320kbps. E como esperado, o arquivo com 320kbps será muito maior do que o com 128kbps. Novamente aquela relação "tamanho-qualidade". Se seu gravador disponibiliza mais kbps para uma gravação, ele conseguirá reproduzir mais detalhadamente a mesma. O recomendado é que se busque gravadores com bit rate de no mínimo 128kbps, para que (aliado às outras especificações já faladas) o gravador consiga captar uma réplica aceitável de qualquer emissão sonora.
        Há ainda outras características a serem analisadas num gravador digital? Com certeza, se você for buscar tudo, ficará um bom tempo pesquisando, como por exemplo se ele oferece conexão USB para computadores. Parece absurdo mas o meu primeiro gravador digital não tinha conexão USB, e eu tinha que passar as gravações para o PC como se fosse um gravador de fita, reproduzindo faixa por faixa e gravando num software específico.
           Bom, apesar de longo, espero que o texto seja um pouco esclarecedor e auxilie todos na escolha de um bom gravador. E gostaria de pedir para quem não leu, que conferisse a postagem sobre até onde podemos ir com o uso de Playback na observação de aves (http://ornitologiamae.blogspot.com.br/2013/02/tecnica-de-playback-na-observacao-de.html). Afinal, se você adquire um gravador, uma das funções dele é criar seu próprio banco de dados sonoro, cuja utilização pode ir das pesquisas de bioacustica, venda de trilhas sonoras, uso como toque de celular, ou como acervo de playback para uma "passarinhada".